AUTORA: BIANCA BRITTO KAZAPI – Administradora/ Analista de Eneagrama/ Pós-graduada em Planejamento Estratégico Empresarial e Psicologia Organizacional.
RESUMO
O artigo tem como proposta fundamentar e dar exemplos sobre conceitos de duas people skills, a inteligência emocional e criatividade, a influências desses fatores para o desenvolvimento humano tanto no ambiente profissional quanto pessoal.
Mostrando a importância das habilidades de inteligência emocional e criatividade, como diferenciais para os profissionais que atuam em escritórios de advocacia, melhorando a relação individual e coletiva. Obtendo resultados criativos para resoluções de problemas.
Como escritórios de advocacia podem atuar, sendo estas organizações corporativas e, desenvolver o lado humano e criativo dos envolvidos, criar um ambiente organizacional onde todos possam oxigenar suas ideias, entender suas emoções e com isso potencializar suas competências emocionais.
Palavras-chave: people skills; escritório de advocacia; inteligência emocional; criatividade.
1. INTRODUÇÃO
Hoje, muito tem se falado em habilidades emocionais e criativas, e muitas organizações veem trabalhando com muita eficácia com suas equipes, estimulando e promovendo ações de desenvolvimentos dos grupos e individualmente.
O meio jurídico sendo um ambiente racional e lógico, em muitos momentos deixa de trabalhar as habilidades emocionais dos profissionais da área.
Falar-se em people skills no ambiente jurídico é algo novo e em muitos casos desconhecidos. Por longo tempo a prioridade encontrava-se nas habilidades técnicas (hard skills), mas nossa sociedade evoluiu e junto o mundo corporativo.
Cercar-se de profissionais que tenha inteligência emocional bem desenvolvida é o grande diferencial das organizações bem-sucedidas.
“Mais que isso, People Skills são imprescindíveis para o desenvolvimento pessoal, uma vez que focamos em melhorar nossas habilidades de nos relacionarmos com o outro e conosco mesmos. Uma vez que a base desse desenvolvimento está exatamente no equilíbrio entre nosso sistema racional e emocional, People Skills devem ser parte fundamental do desenvolvimento de qualquer pessoa independente da área em que atua.” (Garrafa e Vabo Jr, 2020)
E, nesse contexto, como podemos transformar um escritório de advocacia em um ambiente que busca desenvolver sua equipe para criatividade, interação, desenvolvimento pessoal e com isso aumentar a produtividade? Qual a importância das habilidades comportamentais e socioemocionais para as resoluções de casos que demandam mais esforços psicológicos?
Entre as competências comportamentais e socioemocionais vamos destacar a inteligência emocional e a criatividade como diferenciais para o desenvolvimento de soluções eficiente e eficazes para a equipe que integra um escritório de advocacia tanto para soluções internas como para seus os clientes.
Com simples mudanças no ambiente organizacional dos escritórios de advocacia, entendendo que é uma organização e precisa priorizar seu capital humano, podemos transformar os seres individuais e coletivamente para estarem plenos na vida profissional e pessoal.
2. REVISÃO DA LITERATURA
PEOPLE SKILLS X HARD SKILLS: IMPORTÂNCIA E DIFERENÇA
People skills
Sinônimo de soft skills, people skills são habilidades comportamentais e socioemocionais que um indivíduo possui ou adquiri ao longo de sua vida e é de suma importância para sua convivência individual e em grupo.
“Soft skills são traços de personalidade, comportamentos e habilidades interpessoais que usamos para interagir com outras pessoas. No local de trabalho representam a nossa capacidade de trabalhar de forma eficaz e harmoniosa com os outros, e por este motivo que essas são competências que os empregadores procuram no momento da contratação.” (Soares, 2022)
Como exemplos de people skills podemos citar algumas (Amorim, 2024; Garrafa e Vabo, 2020; Soares, 2022):
- Comunicação: habilidade em transmitir com clareza e eficazmente ideias, fazer-se entender tanto na forma verbal como não-verbal. Como manter uma escuta ativa.
- Resolução de problemas: habilidade em analisar, identificar e resolver problemas de forma efetiva e com soluções eficientes e inovadoras.
- Trabalho em equipe e colaboração: habilidade em colaborar com o coletivo, cada um exercendo um objetivo específico, mas com o mesmo propósito de êxito final nas atividades.
- Criatividade: habilidade em criar ideias, copiar, transformar e combinar ideias diversas para um contexto específico.
- Inteligência emocional: habilidade de compreender e controlar emoções tanto próprias quanto de outras pessoas, assim, procurando manter um ambiente mais harmonioso e produtivo.
- Pensamento crítico: habilidade em pensar fora da “caixinha”, do senso comum, com conclusões próprias, bem estruturadas e autênticas. Analisando informações de forma objetivo para alcança uma resolução o mais eficaz possível.
- Adaptabilidade: habilidade em conseguir se adaptar bem em novas situações e circunstâncias. Abraçando as mudanças com atitudes positivas.
“Após considerar todos esses aspectos, sem dúvida é inegável que as soft skills desempenham um papel fundamental no mundo profissional, influenciando de maneira significativa o desempenho individual no ambiente de trabalho, as interações com os colegas de equipe e as relações com os clientes.” (Amorim, 2024)
Hard skills
De acordo com Soares (2022) hard skills “seriam os conhecimentos puramente técnicos necessários para entender a temática geral do que um indivíduo está trabalhando”. Tudo que aprendemos de forma formal na faculdade, curso técnico e profissional.
São habilidades quantificáveis e verificáveis, adquiridas geralmente de forma tradicional (Garrafa e Vabo Jr, 2020).
“No processo de recrutamento, estas são avaliadas e comparadas com as de outros candidatos, havendo nomeadamente o estereótipo das competências técnicas serem unicamente consideradas como um critério de ponderação no momento de seleção.” (Kyllone, 2013 apud Moraes, 2022)
Importância entre hard skills e people skills
No mundo contemporâneo falar somente em competências técnicas (hard skills) tornou-se insuficiente para determinar o sucesso de um profissional, necessitamos do equilíbrio entre nosso conhecimento técnico e nossas competências emocionais e sociocomportamentais.
Conforme Soares (2022), as soft skills lidam com pontos que as hard skills não conseguem alcançar como o lado humano, intuitivo, sentimental, traços específicos de personalidade e que faz um indivíduo ser único e especial, e, assim, tomar as decisões mais assertivas e com criatividade.
“Possuir as Hard Skills é muito importante e saber “o que” fazer é essencial, mas se o “como” não estiver alinhado e as People Skills não forem levadas em conta, suas chances de sucesso também serão menores e sua liderança será questionada.” (Garrafa e Vabo Jr, 2020)
SOFT SKILLS EM ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA
A importância das soft skills em escritórios de advocacia
Focando em um ambiente dinâmico e competitivo os escritórios de advocacia, anteriormente tão focados em conhecimento técnico e domínio jurídico, passam a entender que as habilidades comportamentais e socioemocionais (People Skills) são fatores que o diferenciarão de escritórios que focam somente em habilidades técnicas jurídicas.
“Essas ferramentas são exigidas por grande parte de empresas e corporações, na medida que essas atribuições não são assimiladas nos âmbitos acadêmicos, como por exemplo: a coragem, autodeterminação, inteligência emocional, capacidade analítica, liderança, trabalho em equipe, comunicação pessoal, social e interpessoal, proatividade entre outras.” (Lopes e Martinez, 2023)
Segundo Verre (2023), afirma que “Indivíduos com soft skills, em geral, conseguem formar conexões significativas com outros de forma fácil, além de ter capacidade de lidar com desafios e alcançar seus objetivos”.
Criatividade
Segundo Rubin (2023) a criatividade é uma habilidade inerente ao ser humano, e estamos a praticar esse ato diariamente, seja em conversas, busca de informações, trocar um móvel de lugar, criando realidades internas, o simples fato de acordar e vivenciar o dia.
Criatividade na área jurídica como uma habilidade, é muito menosprezada, pois, para muitos o direito é visto como rígido e objetivo. Porém, proporcionar um ambiente criativo possibilita aos profissionais a encontrarem soluções inovadoras e diferenciadas.
“A criatividade é a capacidade de gerar ideias, soluções ou abordagens novas e originais em diversas situações, envolvendo tanto a inovação quanto a reinterpretação de conceitos e métodos já existentes. Essa habilidade, claro, vai além do âmbito artístico. Estende-se a todos os campos e atuação humana, incluído a advocacia.” (Secco, 2024)
Inteligência Emocional
As emoções estão intimamente ligadas ao sucesso de nossas relações pessoais e profissionais e, ter a capacidade de identificar, compreender e gerenciar as próprias emoções e dos outros nos tornam mais assertivos e conscientes.
“A partir do momento em que as pessoas começam a trabalhar, o QI deixa de ser o indicador do sucesso. Dá-se um ‘efeito chão’, isto é, todos foram selecionados devido ao seu QI elevado, logo são todos inteligentes; contudo, quando se trata de prever qual, entre essas pessoas de grande inteligência, será a mais produtiva, o melhor membro da equipe ou um líder de excelência, a inteligência emocional assume um papel de crescente relevância.” (Goleman, 2015 apud Moraes, 2022)
No contexto dos escritórios de advocacia a inteligência emocional vem como uma das habilidades de grande importância, permitindo que os profissionais se conectem aos clientes e equipe emocionalmente, compreendendo seus anseios, dores, medos, entre diversas emoções que possam surgir e juntamente com sua capacidade técnica encontrar as melhores soluções (Sanches, 2021).
“Entre os talentos emocionais estão: autoconsciência; identificar, expressar e controlar sentimentos; controle de impulso e adiantamento de satisfação; e controlar tensão e ansiedade. Um talento-chave no controle de impulso é saber a diferença entre sentimentos e ações e aprender tomar melhores decisões emocionais controlando primeiro o impulso de agir, depois identificando ações alternativas e suas consequências antes de agir.” (Goleman, 2011)
Como desenvolver um escritório de advocacia voltado para a inteligência emocional e criatividade?
Alguns estudos apontam que 75% do sucesso profissional a longo prazo vai depender de suas habilidades pessoais e interpessoal e somente 25% de conhecimento técnico (Garrafa e Vabo Jr, 2020).
Para tanto podemos apresentar algumas atuações:
- Treinamentos na área da inteligência emocional: análise das emoções para que conheçam seus pontos fortes e entender em que nossas emoções em exagero podem nos prejudicar (Eneagrama); feedbacks contínuos; workshops sobre comunicação, mindset, gestão de tempo, empatia.
- Ambientes colaborativos: colaboração entre a equipe com trocas de experiências e discussões em grupo, o que proporciona novas ideias e soluções.
- Vivências externas: como aprender novos ofícios, passeios para valorização da cultura da cidade onde o escritório é sediado, oficinas de criatividade.
- Montar o cantinho do ócio criativo: com brinquedos educativos e de relaxamento, o que proporciona momento de pausa e oxigenação das ideias.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A complexidade e exigências na área jurídica demostram cada vez mais a importância das people skills, e, o impacto da inteligência emocional e da criatividade para o sucesso dos escritórios de advocacia. A inteligência emocional nos permite lidar com situações de estresse, conflitos e demandas interpessoais de forma mais eficaz, tornando o ambiente mais harmonioso e colaborativo.
Em contrapartida, a criatividade é uma competência que nos auxilia na busca de soluções inovadoras para problemas complexos. Promover a criatividade para a equipe, não só otimiza soluções, como motiva e engaja todos os profissionais para criação de soluções originais.
O artigo apresentou conceitos, diferenças e a importância das people skills e hard skills, e como as habilidades se tornam um diferencial para o sucesso competitivo dos escritórios de advocacia, que ao investir na combinação da inteligência emocional e criatividade, também, criam uma cultura organizacional mais inovadora, saudável e pronta para os desafios do futuro jurídico.
REFERÊNCIAS
AMORIM, Jéssica Raquel Galione. Além do conhecimento técnico jurídico: A importância das soft skills na advocacia moderna. Migalhas. p. online, 05 mar. 2024. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/402773/a-importanciadas-soft-skills-na-advocacia-moderna. Acesso em: 14 out. 2024.
BARRETO, Roberto Menna. Criatividade no trabalho e na vida: minha experiência emmais de 500 seminários para o público e grandes empresas. São Paulo: Summus, 2014. E- book. ISBN 978-85-323-0965-5.
FREITAS, Micaella Dallagnolli; GOES, Moisés de Ameida. Soft skills na advocacia contemporânea e nos meios consensuais de resoluções de problemas. International Journal of Digital Law – IJDL, Belo Hozonte, BH, v. 2, n. 3, p. 113-131, set./dez. 2021.DOI: 10.47975/IDJL.freitas.v.2.n.3. Disponível em: https://journal.nuped.com.br/index.php/revista/article/view/v2n3freitas2021. Acesso em 10 out. 2024.
GARRAFA, Caroline; VABO JR, Luis. Como desenvolver suas people skills. 2020. E-book.
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MARTINEZ, Regina Célia; LOPES, Claudimerison de Souza Cavalcanti. Reflexões sobre soft skills face ao desempenho professional do advogado. Revista Direito &Consciência, Volta Redonda, RJ, v.02, n.03, jun.2023. Disponível em: https://revistas.unifoa.edu.br/direitoeconsciencia/article/download/4429/3150/1711 2. Acesso em: 17 out.2024.
MORAES, Stéfane Beatriz Nunes de. Soft skills: o impacto das competêcias comportamentais no mundo contemporâneo. Orientador: Carlos Eduardo Polonio da Silva. 2022. Artigo (Graduação em Gestão de Recursos Humanos) – Curso de Gradduação em Tecnólogo em Gestão de Rescursos Humanos, Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA, Recife, 2022. Disponível em: https://www.grupounibra.com/repositorio/RHUMN/2022/soft-skills-o-impacto-dascompetencias-comportamentais-no-mundo-contemporaneo-31.pdf. Acesso em: 07 out. 2024.
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